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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Papa aos sacerdotes: vocação de ser “outro Cristo”

Propõe o Santo Cura d’Ars como modelo

O sacerdócio não é meramente um “serviço” aos demais; o centro de uma vocação sacerdotal é a configuração da própria pessoa com Cristo, afirma Bento XVI.

O Papa dedicou a tradicional catequese de quarta-feira a aprofundar no significado do recém-inaugurado Ano Sacerdotal, com o qual se comemora o 150º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars.

“Este novo ano jubilar nos convida a olhar um pobre agricultor convertido em humilde pároco, que realizou seu serviço pastoral em um pequeno povoado”, explicou o Papa aos presentes.

“Por que um Ano Sacerdotal? Por que precisamente na recordação do santo cura d’Ars, que aparentemente não fez nada de extraordinário?”, perguntou.

Para Bento XVI, não é “casual” que o encerramento do Ano Paulino tenha coincidido com o começo do Ano Sacerdotal. Dois santos, Paulo e João Maria Vianney, que “se diferenciam muito pelos trajetos de vida que os caracterizaram”.

No entanto, “algo fundamental os une: sua total identificação com seu próprio ministério, sua comunhão com Cristo que fazia Paulo dizer: ‘Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim’. Já São João Maria Vianney gostava de repetir: ‘Se tivéssemos fé, veríamos Deus escondido no sacerdote como uma luz atrás do cristal, como o vinho mesclado com a água’”.

O Papa explicou que hoje é difícil viver o ministério sacerdotal “num mundo em que a visão comum da vida compreende cada vez menos o sagrado, em cujo lugar o ‘funcional’ converte-se na única categoria decisiva, a concepção católica do sacerdócio poderia correr o risco de perder sua consideração natural, inclusive dentro da consciência eclesial”.

“Não é casual que tanto nos ambientes teológicos como também na prática pastoral concreta e de formação do clero, contrastam-se, e inclusive se opõem, duas concepções diferentes do sacerdócio”, uma “social-funcional” e outra “sacramental-ontológica”.

A primeira “define a essência do sacerdócio com o conceito do ‘serviço’: o serviço à comunidade, na realização de um função...”, enquanto a outra “não nega o caráter de serviço do sacerdócio, mas que o vê ligado ao ser do ministro e considera que este ser está determinado por um dom concedido pelo Senhor através da mediação da Igreja, cujo nome é sacramento”.

Na realidade, esclareceu, “não se trata de duas concepções contrapostas, e a tensão que contudo existe entre elas deve-se resolver a partir de dentro”.

“O sacerdote é servo de Cristo, no sentido de que sua existência, configurada ontologicamente com Cristo, assume um caráter essencialmente relacional: ele está em Cristo, para Cristo e com Cristo ao serviço dos homens.”

“Precisamente porque pertence a Cristo, o sacerdote está radicalmente ao serviço dos homens: é ministro de sua salvação, de sua felicidade, de sua autêntica libertação”, assinalou o Papa.

A respeito do “ministério da palavra” próprio dos sacerdotes, esclareceu que “a pregação cristã não proclama “palavras”, mas a Palavra, e o anúncio coincide com a própria pessoa de Cristo, ontologicamente aberta à relação com o Pai e obediente a sua vontade”.

“Um autêntico serviço à Palavra requer por parte do sacerdote que tenda a uma abnegação profunda de si mesmo”, acrescentou. “O presbítero não pode considerar-se ‘amo’ da palavra, mas servo”.

Isso “não constitui para o sacerdote um mero aspecto funcional. Ao contrário, pressupõe um substancial “perder-se” em Cristo, participando em seu ministério de morte e de ressurreição com todo o próprio eu: inteligência, liberdade, vontade e oferecimento dos próprios corpos, como sacrifício vivo”, afirmou.

O Papa expressou seu desejo de que o Ano Sacerdotal favoreça “o fortalecimento de cada presbítero até a perfeição espiritual da qual depende sobretudo a eficácia de seu ministério”.

Trata-se de “ajudar os sacerdotes e, com eles, todo o Povo de Deus, a redescobrir e revigorar a consciência do extraordinário e indispensável dom da Graça que o ministério ordinário representa para quem o recebeu, para toda Igreja e para o mundo, que, sem a presença real de Cristo, estaria perdido”.

(Inma Álvarez)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Chamou-nos a servir

"E chamou os que Ele quis" (Marcos 3,13). Todo o chamado é única e exclusivamente de iniciativa divina, sendo assim, toda a resposta é um ato de fé do ser humano, que recebe esse chamado. "Foi pela fé que Abraão, obedecendo o apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. Partiu não sabendo para onde ia." (Hebreus 11,8). A vocação tem um sentido último, a vida eterna (céu), somos amados e desejados por Deus desde toda a eternidade, nossa vida e missão aqui já é uma antecipação daquilo que seremos chamados a viver na eternidade. E Deus tem uma maneira peculiar de chamar a cada uma de nós, uns à vida presbiteral, outros à vida religiosa e outros ainda para a vida matrimonial e laical. Basta-nos, a partir do batismo que recebemos, assumirmos a vocação de filhos de Deus que nos foi confiada.
E cada pessoa tem essa responsabilidade de como cristão batizado interceder junto a Deus para que o nosso discernimento enquanto vocacionados a caminho do bom Pastor seja pela vontade de Deus. Pois, “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4,13).


Daniel Fagundes Junior
1º Ano de Filosofia
SEFISC- Seminário Filosófico de Santa Catarina.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Padre Fábio de Mello fala do celibato

Há pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar. Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família. Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.

Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade
interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa
ao contexto do "pode ou não pode". A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar,
não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim
a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença.

Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo. Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas
as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos.
É questão de maturidade. Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só.

Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz
sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas
para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento.
Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas.
Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia.
Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que
minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração.
Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que
poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente
ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar
em "propriedade privada". Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.

Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso.
Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo. Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras nem olhares. Não descobriram a beleza dos
detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo de mais, mas amaram de menos.
Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.

É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose
ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os
casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre
– É de livre e espontânea vontade que o fazeis?
– É simples.

Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto
mais sincero de nossas predileções.

(Pe. Fabio de Melo)