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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Veneração de Zilda Arns no Brasil

Irmã Maria Helena Arns, das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, em diálogo

FORQUILHINHA, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


Em primeiro lugar a irmã – entre as mais velhas de Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral da Criança, que perdeu a vida no terremoto de Haiti – Ir. Maria Helena Arns se expressou sobre o luto pela irmã falecida e sua veneração no Brasil.

Enquanto Zilda era mãe de família que gerou seis filhos, a Irmã Maria Helena pertence à “Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora”, como também duas outras de suas irmãs de sangue.


Seu irmão Franciscano, Frei João Crisóstomo, faleceu em 2002, um outro Franciscano é o Arcebispo emérito de São Paulo, cardeal Paulo Evaristo Arns. Com isso, dos 13 irmãos, cinco se consagraram a Deus. Irmã Maria Helena mora no lugar de nascimento de sua irmã Zilda, em Forquilhinha, Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, que ainda tem marcas fortes dos imigrantes alemães. O diálogo foi feito com Michaela Koller.


–ZENIT: Soubemos pela Irmã Rosangela Maria Altoé, a secretária internacional da Pastoral da Criança, que sua irmã Zilda Arns Neumann fora atingida mortalmente na Igreja Sacre Coeur de Turgeau em Porto Príncipe pelos destroços do teto da igreja.


–Irmã Maria Helena Arns: Depois da conferência para 150 pessoas, que na maioria já tinham se retirado da igreja, lugar da conferência, um sacerdote queria saber ainda mais sobre a Pastoral da Criança. Ele e mais 15 sacerdotes ficaram conversando, quando aconteceu o terremoto, e 15 deles perderam sua vida com a Zilda.


–ZENIT: Quais foram as suas reações imediatas e as da Pastoral da Criança quando a terrível notícia da morte foi confirmada?


–Irmã Maria Helena Arns: Foi um imenso choque não só para nossa família, mas para todo o Brasil. É muito difícil falar sobre este acontecimento... Em todas as Paróquias foi celebrada a Eucaristia, mesmo na Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. A maioria das coordenadoras da Pastoral da Criança conhecia Zilda pessoalmente ou pela televisão, nesses 27 anos. Os meios de comunicação, televisão, rádio, jornais, revistas, telefone, internet, em toda parte, era registrado o desfecho da Zilda. Numerosas pessoas deram um testemunho sobre a sua vida e missão, entre eles, Dom Angélico S. Bernardino (bispo emérito de Blumenau) sobre o título “Quem recebeu Zilda no Céu”, e Dom Walmor de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, que escreveu um artigo muito lindo “Zilda Arns - pela Fé”.


–ZENIT: Como a Pastoral vai continuar agora?


–Irmã Maria Helena Arns: Há três anos Zilda entregou a coordenação nacional à Irmã Vera Lucia Altoé e assumiu a coordenação internacional da Pastoral da Criança, que já se estendeu para 20 países, na América Latina, Ásia e África. Zilda também fundou a Pastoral da Pessoa Idosa em área nacional.


–ZENIT: Como está a expansão atual da Pastoral da Criança?


–Irmã Maria Helena Arns: A Pastoral da Criança já está atuando em todas as 272 Dioceses do Brasil, em 7.000 paróquias, 42.000 comunidades, com um “exército” de 260.000 voluntários, 92% mulheres, que acompanham 1.985.347 crianças pobres, 108.342 gestantes, de 1.553.717 famílias. No início a desnutrição das crianças era mais de 50% no Brasil, agora está em 3,1%. A mortalidade infantil, em 1983 era 82,8 entre 1000 crianças nascidas vivas. Hoje está em 13, nas comunidades pobres, acompanhadas pela Pastoral da Criança. Os dados são da última conferência da Zilda no Haiti.


–ZENTI: Como estão os esforços para fazer a Zilda Arns Neumann candidata para o prêmio Nobel da Paz, post mortem?


–Irmã Maria Helena Arns? O governador do Paraná, Roberto Requião, no seu discurso durante o velório, pediu ao Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que estava presente, que se empenhasse para que seja concedido a Zilda o Prêmio Nobel da Paz. Lula deu resposta positiva.


–ZENIT: Já devem ter surgindo vozes, também da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sobre a possibilidade de abrir o processo de Beatificação...


–Irmã Maria Helena Arns: Foi um Bispo que se exteriorizou aos meios de comunicação sobre isso. A CNBB toma grandes decisões nunca fora da Assembleia Geral da CNBB, com todos os Bispos. Mesmo muitos leigos e religiosos falando sobre isso, seria cedo para julgar. A “Revista Veja” a considerou “Uma santa na vida e uma mártir na morte”. Nós sabemos que a Igreja age devagar e com muito cuidado no caso de Beatificação e Canonização, e isso com tempo.


–ZENIT: No entanto, já aparecem venerações leigas, dando o nome de Zilda a inaugurações.


–Irmã Maria Helena Arns: Sim, um parque em São Paulo foi inaugurado com o nome Parque Zilda Arns. Recebeu este nome no dia do enterro da Zilda. Ele fica no Bairro Jardim Grimaldi, perto da Avenida Sapopemba.


–ZENIT: Nós agradecemos e lhe queremos expressar novamente nossa condolência.


–Irmã Maria Helena Arns: Muito obrigada pela sua condolência pelo falecimento de minha querida irmã Zilda. O Espírito Santo queira lhe inspirar sempre como o fez para o grande Apóstolo São Paulo. Depois de 2.000 anos ainda lemos suas cartas com muito fervor. É questão de salvar o nosso Planeta e o Povo de Deus; por um mundo melhor. Tenho certeza que Zilda colaborou para isso e ainda o fará.

[Entrevista concedida a ZENIT originalmente em alemão. Tradução ao português da própria Irmã Maria Helena Arns]

Num tempo de barulho e palavreado, atitude de escuta e silêncio na Quaresma

Mensagem de Dom António Vitalino para este tempo litúrgico

BEJA, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


O presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana do episcopado português, Dom António Vitalino, pede aos fiéis que acrescentem às práticas tradicionais da Quaresma uma atitude de escuta e o silêncio.


Em mensagem para este tempo litúrgico, divulgada nesta sexta-feira, o bispo recorda que, “tradicionalmente e desde os tempos evangélicos, a Igreja recomenda durante a Quaresma a intensificação de três práticas significativas da seriedade do processo de conversão: a oração, o jejum e a esmola”.


“Esta trilogia, assumida livremente por amor a Cristo e aos irmãos mais carenciados, mantém o seu valor em ordem à nossa configuração a Cristo e ao nosso empenho solidário com todos os que sofrem.”


“Sentindo na nossa pele o sofrimento de Cristo e dos injustiçados deste mundo, crescemos na nossa identidade humana e cristã”, afirma.


Segundo o bispo, estas práticas quaresmais “nos ajudam a preparar-nos também para a nossa Páscoa, a nossa passagem duma vida efêmera, centrada em nós mesmos, para a plenitude da vida na caridade”.


No entanto, Dom António Vitalino pede que os católicos acrescentem a essas três práticas “a atitude de escuta e o silêncio, que fazem parte da oração autêntica, por muitos entendida apenas como vocal, de petição, e menos de admiração e contemplação do mistério de Deus e da vida”.


“Vivemos num tempo de barulho, de palavreado, de demagogia, de processos infindáveis, em que os sofismas das palavras procuram escamotear e ocultar os fatos, criando realidades virtuais contra as vítimas reais”, assinala.


“Precisamos de escutar os outros, sobretudo as vítimas, os que sofrem, as crianças e mães maltratadas, os pais de família desempregados, as vítimas do tráfico laboral, sexual e de órgãos.”


De acordo com o bispo, a oração da Igreja “ajuda-nos a cultivar estas atitudes de escuta, sensibilidade e compaixão com aqueles que continuam no presente a Paixão de Jesus, mas a quem falta a capacidade de oferta e doação manifestadas por Cristo”.


“Precisam de Cireneus que os ajudam a levar a cruz. Nesta companhia solidária contribuímos para realizar a justiça na sua plenitude”, afirma.


Fonte: Zenit.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Telogia da Libertação na palavra de Dom Eugênio de Araújo Sales (Bispo)

Dom Eugênio de Araújo Sales escreveu um texto interpretando as palavras de Bento XVI aos bispos brasileiros: Cardeal Eugenio Sales comenta fala recente do Papa sobre o tema RIO DE JANEIRO, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).

Apresentamos o artigo que o cardeal Eugenio de Araujo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, difundiu esta quarta-feira no portal da arquidiocese do Rio, abordando o tema da Teologia da Libertação.

Erros de certas T.L.

O apelo urgente que o Papa Bento XVI endereçava aos Bispos dos Regionais 3 e 4 da CNBB, em visita “ad límina” a 5 de dezembro 2009, não se limitou aos Bispos que estavam presentes, mas, como sempre nessas visitas, se dirige ao Episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil.

O Santo Padre lembrou as circunstâncias prementes que, 25 anos atrás, exigiam uma clara orientação da Santa Sé no Documento “Libertatis Nuntius”. Este, já na primeira linha, afirma que “o Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”.
Daquele documento, a Igreja recebia grande luz; mas não faltava a animosidade dos que queriam obscurecer e difamar essa doutrina.

Com palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas, o Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação.

A alocução do Papa aos Bispos dos Regionais Sul 3 e 4 é uma mensagem que envolve a autoridade apostólica do Supremo Pastor e o bem evangélico da Igreja entre nós. Por isso, urge que todos os pastores acolham a palavra do Papa e se lembrem daquela crise, que tornava quase impossível, mesmo em ambientes às vezes de alto nível eclesiástico, o diálogo e a discussão serena. Hoje ainda, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, sofre consequências dolorosas daqueles desvios.

Ao relativizar, silenciar ou até hostilizar partes essenciais do “depósito da fé”, a Teologia da Libertação negligenciava “a regra suprema da Fé da Igreja, que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”, diz Bento XVI, citando as palavras do Papa João Paulo II (“Fides et Ratio”, 55). “Os três não podem subsistir independentes” entre si. – Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela “rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia” (mensagem de Bento XVI). Diz o Santo Padre: Cria-se assim “nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas” (Bento XVI, idem).

Já no documento “Libertatis Nuntius”, do ano 1984, o Papa João Paulo II e a Congregação da Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, quis “estender a mão” e oferecer a clara e “benigna luz” da divina fé e da comunhão viva que o Espírito Santo dá à Igreja (Bento XVI, ibd).

Com palavras concisas e fortes, o documento “Libertatis Nuntius” sobre a Teologia da Libertação falava da justa “aspiração à libertação como um dos principais sinais” do tempo moderno. Especialmente “nos povos que experimentam o peso da miséria”, com suas massas deserdadas, ofendidas na sua profunda dignidade (cf. LN I,1-2). “O escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres já não é tolerado”. “Abundância jamais vista, de um lado, e, do outro, vive-se ainda numa situação de indigência, marcada pela privação dos bens de primeira necessidade” (I,6).

Infelizmente, certas Teologias da Libertação, as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo. Para o Evangelho da libertação é fundamental a libertação do pecado. Tal libertação exige “por consequência lógica a libertação de muitas outras escravidões, de ordem cultural, econômica, social e política”, todas elas derivadas do pecado. Muitas Teologias da Libertação afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Identificaram-se, coisas em si muito boas, com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostrando seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à “análise” marxista. Silenciavam, ou ignoravam, que “na lógica marxista não é possível dissociar a «análise» da «práxis» e da concepção da história” (VIII,2). Destarte, “a própria concepção da verdade encontra-se totalmente subvertida” (VIII,4).

Compreende-se que diante da urgência da situação de tantos que – inermes – sofrem, e diante da insuficiente sensibilidade na consciência pública e nas estruturas dominantes, devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história.

Mas se este compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem, tal Teologia, que se apresenta como Libertadora, é na realidade traidora dos pobres e de sua real dignidade (Introdução). “Certo número de teses fundamentais (da TL) não são compatíveis com a concepção cristã do homem” (cf. VIII,8).

O Santo Padre, sabendo que, sob muitos aspectos a Teologia da Libertação está ultrapassada, sabe também e vê que a Igreja no Brasil sofre ainda devastadoras sequelas de tal desvio doutrinário, propagado longamente até por gente bem intencionada, mas não capaz de analisar seus falsos princípios.

É quase um juramento que o Papa conclama os Bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil: “Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz” (final da mensagem de Bento XVI).

Cardeal Eugenio de Araujo Sales Arcebispo

Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Considerações de Bento XVI às Teologias da Libertação - Parte 2

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL
DOS BISPOS DO BRASIL DOS REGIONAIS SUL 3 E SUL 4
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»

Sala do Consistório
Sábado, 5 de Dezembro de 2009

Venerados Irmãos no Episcopado,

Dou as boas-vindas e saúdo a todos e cada um de vós, ao receber-vos colegialmente no quadro da vossa visita ad limina. Agradeço a Dom Murilo Krieger as expressões de devotada estima que me dirigiu em nome de todos vós e do povo confiado aos vossos cuidados pastorais nos Regionais Sul 3 e 4, expondo também os seus desafios e esperanças. Ouvindo estas coisas, sinto elevarem-se do meu coração ações de graças ao Senhor pelo dom da fé misericordiosamente concedido às vossas comunidades eclesiais e por elas zelosamente conservado e arduamente transmitido, em obediência ao mandato que Jesus nos deixou de levar a sua Boa Nova a toda a criatura, procurando impregnar de humanismo cristão a cultura atual.

Referindo-me à cultura, o pensamento dirige-se para dois lugares clássicos onde a mesma se forma e comunica – a universidade e a escola –, fixando a atenção principalmente nas comunidades acadêmicas que nasceram à sombra do humanismo cristão e nele se inspiram, honrando-se do nome «católicas». Ora «é precisamente na referência explícita e compartilhada de todos os membros da comunidade escolar – embora em graus diversos – à visão cristã que a escola é “católica”, já que nela os princípios evangélicos tornam-se normas educativas, motivações interiores e metas finais» (Congr. para a Educação Católica, Doc. A escola católica, n. 34). Possa ela, numa convicta sinergia com as famílias e com a comunidade eclesial, promover aquela unidade entre fé, cultura e vida que constitui a finalidade fundamental da educação cristã.

Entretanto também as escolas estatais, segundo diversas formas e modos, podem ser ajudadas na sua tarefa educativa pela presença de professores crentes – em primeiro lugar, mas não exclusivamente, os professores de religião católica – e de alunos formados cristãmente, assim como pela colaboração das famílias e pela própria comunidade cristã. Com efeito, uma sadia laicidade da escola não implica a negação da transcendência, nem uma mera neutralidade face àqueles requisitos e valores morais que se encontram na base de uma autêntica formação da pessoa, incluindo a educação religiosa.

A escola católica não pode ser pensada nem vive separada das outras instituições educativas. Está ao serviço da sociedade: desempenha uma função pública e um serviço de pública utilidade, não reservado apenas aos católicos, mas aberto a todos os que queiram usufruir de uma proposta educativa qualificada. O problema da sua paridade jurídica e econômica com a escola estatal só poderá ser corretamente impostado se partirmos do reconhecimento do papel primário das famílias e subsidiário das outras instituições educativas. Lê-se no artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: «Os pais têm direito de prioridade na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos próprios filhos». O empenho plurissecular da escola católica situa-se nesta direção, impelido por uma força ainda mais radical, ou seja, a força que faz de Cristo o centro do processo educativo.

Este processo, que tem início nas escolas primária e secundária, realiza-se de modo mais alto e especializado nas universidades. A Igreja foi sempre solidária com a universidade e com a sua vocação de conduzir o homem aos mais altos níveis do conhecimento da verdade e do domínio do mundo em todos os seus aspectos. Apraz-me tributar aqui a mais viva gratidão eclesial às diversas congregações religiosas que entre vós fundaram e suportam renomadas universidades, lembrando-lhes, porém, que estas não são uma propriedade de quem as fundou ou de quem as freqüenta, mas expressão da Igreja e do seu patrimônio de fé.

Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.

Venerados Irmãos no episcopado, na união a Cristo precede-nos e guia-nos a Virgem Maria, tão amada e venerada nas vossas dioceses e por todo o Brasil. Nela encontramos, pura e não deformada, a verdadeira essência da Igreja e assim, através dela, aprendemos a conhecer e a amar o mistério da Igreja que vive na história, sentimo-nos profundamente uma parte dela, tornamo-nos por nossa vez «almas eclesiais», aprendendo a resistir àquela «secularização interna» que ameaça a Igreja e os seus ensinamentos.

Enquanto peço ao Senhor que derrame a abundância da sua luz sobre todo o mundo brasileiro da escola, confio os seus protagonistas à proteção da Virgem Santíssima e concedo a vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos e religiosas, aos leigos empenhados, e a todos os fiéis das vossas dioceses paterna Bênção Apostólica.

FONTE: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/december/documents/hf_ben-xvi_spe_20091205_ad-limina-brasile_po.html

Considerações de Bento XVI às Teologias da Libertação

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL
DOS BISPOS DO BRASIL DO REGIONAL SUL 1
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sala do Consistório
Sábado, 14 de Novembro de 2009

Senhor Cardeal,
Amados Arcebispos e Bispos do Brasil

No meio da visita que estais cumprindo ad limina Apostolorum, vos reunistes hoje para subir à Casa do Sucessor de Pedro, que de braços abertos vos acolhe a todos vós, amados Pastores do Regional Sul 1, no Estado de São Paulo. Lá se encontra o importante centro de acolhimento e evangelização que é o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde tive a alegria de estar em maio de 2007 para a inauguração da Quinta Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Faço votos por que a semente então lançada possa dar válidos frutos para o bem espiritual e também social das populações daquele promissor Continente, da querida Nação brasileira e do vosso Estado Federal. Elas «têm direito a uma vida plena, própria dos filhos de Deus, com condições mais humanas: livres da ameaças da fome e de toda forma de violência» (Discurso inaugural da V Conferência do Episcopado Latino-Americano, 13 de Maio de 2007, n. 4). Uma vez mais, desejo agradecer tudo o que foi realizado com tão grande generosidade e renovar a minha cordial saudação a vós e às vossas dioceses, recordando de modo especial os sacerdotes, os consagrados e consagradas e os fiéis leigos que vos ajudam na obra de evangelização e animação cristã da sociedade.

O vosso povo abriga no coração um grande sentimento religioso e nobres tradições, enraizadas no cristianismo, que se exprimem em sentidas e genuínas manifestações religiosas e civis. Trata-se de um patrimônio rico de valores, que vós – como mostram os relatórios, e Dom Nelson referia na amável saudação que em vosso nome acaba de dirigir-me – procurais manter, defender, estender, aprofundar, vivificar. Ao regozijar-me vivamente com tudo isto, exorto-vos a prosseguir nesta obra de constante e metódica evangelização, cientes de que a formação autenticamente cristã da consciência é decisiva para uma profunda vida de fé e também para o amadurecimento social e o verdadeiro e equilibrado bem-estar da comunidade humana.

Com efeito, para merecer o título de comunidade, um grupo humano deve corresponder, na sua organização e nos seus objetivos, às aspirações fundamentais do ser humano. Por isso não é exagerado afirmar que uma vida social autêntica tem início na consciência de cada um. Dado que a consciência bem formada leva a realizar o verdadeiro bem do homem, a Igreja, especificando qual é este bem, ilumina o homem e, através de toda a vida cristã, procura educar a sua consciência. O ensinamento da Igreja, devido à sua origem – Deus –, ao seu conteúdo – a verdade – e ao seu ponto de apoio – a consciência –, encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e mesmo não crente. Concretamente, «a questão da vida e da sua defesa e promoção não é prerrogativa unicamente dos cristãos. Mesmo se recebe uma luz e força extraordinária da fé, aquela pertence a cada consciência humana que aspira pela verdade e vive atenta e apreensiva pela sorte da humanidade. (…) O “povo da vida” alegra-se de poder partilhar o seu empenho com muitos outros, de modo que seja cada vez mais numeroso o “povo pela vida”, e a nova cultura do amor e da solidariedade possa crescer para o verdadeiro bem da cidade dos homens» (Enc. Evangelium vitæ, 101).

Venerados Irmãos, falai ao coração do vosso povo, acordai as consciências, reuni as vontades num mutirão contra a crescente onda de violência e menosprezo do ser humano. Este, de dádiva de Deus acolhida na intimidade amorosa do matrimônio entre o homem e a mulher, passou a ser visto como mero produto humano. «Hoje, um campo primário e crucial da luta cultural entre o absolutismo da técnica e a responsabilidade moral do homem é o da bioética, onde se joga radicalmente a própria possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Trata-se de um âmbito delicadíssimo e decisivo, onde irrompe, com dramática intensidade, a questão fundamental de saber se o homem se produziu por si mesmo ou depende de Deus. As descobertas científicas neste campo e as possibilidades de intervenção técnica parecem tão avançadas que impõem a escolha entre estas duas concepções: a da razão aberta à transcendência ou a da razão fechada na imanência» (Enc. Caritas in veritate, 74). Jó, de modo provocatório, chama os seres irracionais a darem o próprio testemunho: «Pergunta, pois, aos animais e eles te ensinarão; às aves do céu e elas te instruirão, aos répteis da terra e eles te responderão, e aos peixes do mar e eles te darão lições. Quem não vê em tudo isto a mão de Deus que fez todas estas coisas? Deus tem nas suas mãos a alma de todo o ser vivente, e o sopro de vida de todos os homens» (Jó 12, 7-10). A convicção da reta razão e a certeza da fé de que a vida do ser humano, desde a concepção até à morte natural, pertence a Deus e não ao homem, confere-lhe aquele caráter sagrado e aquela dignidade pessoal que suscita a única atitude legal e moral correta, isto é, a de profundo respeito. Porque o Senhor da vida falou: «Da vida do homem pedirei contas a seu irmão. (…) porque Deus fez o ser humano à sua imagem» (Gen 9, 5.6).

Meus amados e venerados Irmãos, nunca podemos desanimar no nosso apelo à consciência. Não seríamos seguidores fiéis do nosso Divino Mestre, se não soubéssemos em todas as situações, mesmo nas mais árduas, levar a nossa «esperança para além do que se pode esperar» (Rom 4, 18). Continuai a trabalhar pelo triunfo da causa de Deus, não com o ânimo triste de quem adverte só carências e perigos, mas com a firme confiança de quem sabe poder contar com a vitória de Cristo. Unida ao Senhor de modo inefável está Maria, plenamente conforme ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploro de Deus luz, conforto, força, intensidade de propósitos e realizações para vós e vossos mais diretos colaboradores, ao mesmo tempo que de coração vos concedo, extensiva a todos os fiéis de cada comunidade diocesana, uma particular Bênção Apostólica.

FONTE: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/november/documents/hf_ben-xvi_spe_20091114_ad-limina-brasile_po.html

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Na INTEGRA: Mutirão aprova Carta de Porto Alegre

Somos comunicadores e comunicadoras solidários com nossos povos e integrados plenamente no seu caminhar. Partilhamos os sofrimentos, as crises, as alegrias e as esperanças de nossas irmãs e irmãos. Por esse motivo, e ainda em meio à atual crise civilizatória, que se expressa, entre outros fatores, na mundialização das economias e na livre circulação de mercadorias e capitais especulativos, nos atrevemos a refletir e sonhar, alimentando a utopia e a esperança.

Somos comunicadores e comunicadoras, pesquisadores, professores, jornalistas e estudantes da América Latina e do Caribe, reunidos em Porto Alegre (Brasil) de 3 a 7 de fevereiro de 2010, no Mutirão de Comunicação, no qual fomos convidados para analisar os “Processos de comunicação e cultura solidária”.

O Mutirão propiciou o intercâmbio de experiências, de saberes e de comunhão em Jesus Cristo entre comunicadores e comunicadoras com diferentes trajetórias pessoais, profissionais, políticas, religiosas, culturais, unidos no compromisso e na responsabilidade comum com os povos da região que lutam pela dignidade, pela justiça e na defesa de uma democracia que seja capaz de garantir a vigência de seus direitos econômicos, políticos, sociais e culturais.

Esta carta traduz nossos sonhos de futuro apoiados no compromisso político de concretizar uma utopia construída sobre a rica bagagem cultural e religiosa acumulada ao longo dos anos, que representa uma enorme riqueza de nossos povos e nossas culturas, especialmente indígenas, negros e migrantes, constituindo uma herança tantas vezes desprezada. Este rico legado, somado à vitalidade dos movimentos sociais, habilita o surgimento de atores que têm “direito a ter direito” e são os forjadores de nossa diversidade cultural.

Com Dom Helder Câmara dizemos que “quando sonhamos sozinhos , é apenas um sonho; quando sonhamos juntos é o começo de uma nova realidade” (Mensagem de Natal, 1992).

Por isso fazemos essa convocação para a ação que, sem abandonar um olhar analítico e crítico sobre a realidade política, social, cultural, religiosa e comunicacional, busca a construção de uma nova cidadania comunicativa que contribua à plena vigência dos direitos humanos e das condições de uma vida digna.

Partilhando as incertezas naturais de quem está envolvido no processo histórico e social e sem pretender esgotar as propostas, mas com a firmeza de nossas convicções, saberes, experiências, sensibilidade e paixão, e inspirados e inspiradas pelo Evangelho de Jesus, sonhamos com:

1. Uma cidadania comunicacional que, no marco dos processos políticos e culturais, permita a participação criativa e protagônica das pessoas como forma de eliminar a concentração de poder de qualquer tipo para, assim, construir e consolidar novas democracias. Cidadania que não se pode pensar somente em termos jurídicos, mas também como uma atitude e uma condição associadas à reivindicação de ser reconhecido, de ter arte e parte nas decisões que afetam a vida em suas múltiplas dimensões, porque não há democracia política sem democracia comunicacional.

2. Uma palavra liberada de todo tipo de opressão e discriminação, para que se apropriem dela também os jovens e as jovens, os mais pobres e pequenos, como germe de uma cultura solidária.

3. Políticas públicas de comunicação elaboradas a partir da ideia de que a comunicação é um direito humano e um serviço público e nas quais haja espaço tanto para a iniciativa privada comercial, como para os meios estatais, os meios públicos não-governamentais e os comunitários.

4. Uma sociedade civil mobilizada para incidir politicamente na busca de uma comunicação livre, socialmente responsável, justa e participativa.

5. Cidadãos, comunicadores e atores sociais preparados para manter e vigiar práticas comunicativas democráticas, participativas, inclusivas e apoiadas em uma nova perspectiva integral de direito à comunicação.

6. Movimentos sociais, organizações populares, igrejas e instituições que se apropriem e incorporem, nas suas práticas comunicativas, os cenários e os processos das tecnologias da informação e as novas linguagens a fim de ampliar seu horizonte comunicacional e contribuir para a eliminação da brecha informativa e digital.

7. Responsáveis da gestão do Estado capazes de levar adiante políticas públicas e estratégias de comunicação destinadas a assegurar o direito à comunicação, através de ações pertinentes e efetivas, que eliminem as diferenças e as desigualdades que hoje existem em matéria de produção, acesso e circulação de todo tipo de bens culturais.

8. Cristãos comprometidos e organizados que, a partir da sua fé, tenham uma presença ativa e transformadora no campo da comunicação, incorporando as novas tecnologias no espírito e nas linhas de ação dessa carta.

Sonhamos, enfim, com comunicadores e comunicadoras:

• cuja prática profissional seja marcada pela vivência de uma cultura solidária, por critérios éticos e por uma vida coerente com esses princípios;

• que se reconheçam, acima de tudo, servidores do direito dos cidadãos a receber e emitir informação e opinião; que não se subordinem aos interesses e às pressões do poder político ou econômico porque estão comprometidos com a cidadania comunicacional;

• que estejam junto aos empobrecidos e incorporem seu olhar;

• que impulsionem o diálogo para enfrentar as contradições, inevitáveis em qualquer sociedade, com o objetivo de alcançar a paz e a justiça;

• que não se preocupem somente em ser plurais, mas igualmente em valorizar as diferenças surgidas no caminho da busca da verdade;

• que suscitem solidariedade a partir dos processos de comunicação;

• que saibam escutar e estar atentos especialmente ao clamor que emerge do murmúrio dos silenciados e, assim, contribuir para a visibilidade dos invisíveis de hoje.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2010


A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3, 21–22 )

Queridos irmãos e irmãs,

Todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos . Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 – 22 ).
Justiça: “dare cuique suum”

Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de facto precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).

De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reacções dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingénua e míope. A injustiça, fruto do mal , não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista:”Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha, adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição ; á lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?

Justiça e Sedaqah
No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De facto sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva ( cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egipto (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre ( cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro ( cfr Ex 22,20), o escravo ( cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efectuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?

Cristo, justiça de Deus
O anuncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “ Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De facto não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25)

Qual é portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O facto de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objecção: que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico , mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.

Precisamente fortalecido por esta experiencia, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.

Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica.


Vaticano, 30 de Outubro de 2009

BENEDICTUS PP. XVI

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Mensagem da Congregação para o Clero aos Presbíteros do Brasil

Mensagem da Congregação para o Clero aos Presbíteros do Brasil,
particularmente aos participantes do 13º Encontro Nacional de Presbíteros


Caros irmãos no sacerdócio,

“Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote!”, eis o tema do Ano Sacerdotal que estamos vivenciando. O Papa Bento XVI deseja que este ano especial seja um tempo de profunda renovação interior dos sacerdotes. Justamente por essa razão, propõe São João Maria Vianney como modelo de vida sacerdotal, um exemplo antigo, mas com uma mensagem de vida e santidade sacerdotal que são perenes e atuais.

A Cura d’Ars dizia que “um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus é o maior tesouro que o Bom Deus possa dar a uma paróquia e uma das dádivas mais preciosas da misericórdia divina”. Ser pastor segundo o coração de Deus, eis o grande desafio para os sacerdotes de todos os tempos, eis o maior tesouro que o nosso Pai poderia oferecer aos fiéis de nossas comunidades.

O sacerdote será Bom Pastor na medida em que, através do exercício quotidiano do seu ministério, se dedicar integralmente a Cristo e, por Ele, com Ele e Nele, aos irmãos, em total fidelidade, sempre a exemplo do mesmo Senhor. Por essa razão, o apelo à fidelidade quer recordar a cada um de nós, o feliz dever de renovar os compromissos assumidos no dia da nossa Ordenação, de sermos, de fato, homens pobres, castos, obedientes, fiéis anunciadores do Evangelho, a todos sem exceção, em espírito de verdadeira comunhão eclesial.


O povo brasileiro, sedento de Deus, deseja vivamente que seus sacerdotes sejam homens de Deus. Por sua vez, o sacerdote não se tornará “homem de Deus” se não for “homem de oração”. Assim sendo, na vida do sacerdote a oração e a intimidade com Deus são essenciais e insubstituíveis. A oração na vida do presbítero ou ocupa um lugar central, ou será um belo ideal, distante de ser concretizado.

O Papa Bento XVI, em sua homilia da Quinta‐feira Santa de 2006, afirma que “ser sacerdote significa ser homem de oração”. Se o trabalho pastoral não for precedido e acompanhado pela oração, perderá seu valor e sua eficácia. O tempo que empregamos no cultivo da amizade com Cristo, na oração pessoal e litúrgica – concretamente na dedicação de um tempo determinado e quotidiano à meditação e na fiel recitação da Liturgia das Horas –, é um tempo de atividade autenticamente pastoral. Por essa razão, o sacerdote deve ser, sempre, um homem de oração. Não nos iludamos: se falta a oração pessoal na vida do presbítero, sua ação pastoral será estéril e correrá o risco de perder de vista o “primeiro Amor”, ao qual entregou incondicionalmente sua vida, naquele dia memorável e cheio de generosidade, o dia da sua ordenação sacerdotal.

Em referência à programação para o Ano Sacerdotal, gostaríamos de lembrar‐vos do Encontro Internacional de Sacerdotes, com o Santo Padre, em Roma, nos dias 9, 10 e 11 de junho do ano corrente, por ocasião do encerramento deste tempo de graça. Queremos fazer deste encontro um marcante gesto de comunhão eclesial, com a presença de sacerdotes das várias nações do mundo, junto ao Sucessor de Pedro. Todos são convidados a participar deste evento. Desejamos poder contar com um significativo número de sacerdotes do Brasil, pois
poderá significar uma feliz ocasião para agradecer ao Santo Padre seu carinho e atenção para com o povo brasileiro, especialmente depois de sua visita par a abertura da Conferência Geral do Episcopado Latino‐americano e do Caribe, em Aparecida.


Caros irmãos, gostaríamos de exortar‐vos, com aquelas mesmas palavras de São Paulo: “Estai sempre alegres. Orai continuamente. Em todas as circunstâncias, daí graças, porque esta é a vontade de Deus, em Cristo Jesus, a vosso respeito (...) Que o próprio Deus da paz vos santifique inteiramente, e que todo o vosso ser – o espírito, a alma e o corpo – seja guardado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (1 Tess. 5, 16‐18.23s).

Com estes mesmos sentimentos queremos que continuais a viver o Ano Sacerdotal: sempre alegres, porque grande é o dom da vossa vocação e urgente um novo ardor missionário, a fazer‐se presente no coração sacerdotal de cada um de vós. Despedimo‐nos, implorando ao Senhor Jesus que vos abençoe e santifique com a sua graça!

Cidade do Vaticano, 03 de fevereiro de 2010.

Card. Cláudio Hummes
Arcebispo Emérito de São Paulo
Prefeito da Congregação para o Clero


Mauro Piacenza
Arcebispo tit. de Victoriana
Secretário

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 44º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O 44º DIA MUNDIAL
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
«O sacerdote e a pastoral no mundo digital:
os novos media ao serviço da Palavra»
[Domingo,16 de Maio de 2010]


Queridos irmãos e irmãs!
O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – «O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra» – insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.
A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: «Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?» (Rm 10,11.13-15).
Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.
Contudo, a divulgação dos «multimédia» e o diversificado «espectro de funções» da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.
Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede».
Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].
Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: «Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).
Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma «diaconia da cultura» no actual «continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?
O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.
A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na «ágora» moderna criada pelos meios actuais de comunicação.
Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – de 2010.
BENEDICTUS PP. XVI