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terça-feira, 29 de junho de 2010

A construção da comunhão eclesial é a chave da missão


Dia Mundial das Missões 2010: Mensagem do Papa

Prezados irmãos e irmãs!

Com a celebração do Dia Missionário Mundial, o mês de Outubro oferece às Comunidades diocesanas e paroquiais, aos Institutos de Vida Consagrada, aos Movimentos Eclesiais, a todo o Povo de Deus, a ocasião para renovar o compromisso de anunciar o Evangelho e dar às atividades pastorais um ímpeto missionário mais amplo. Este encontro anual convida-nos a viver intensamente os percursos litúrgicos e catequéticos, caritativos e culturais, mediante os quais Jesus Cristo nos convoca à mesa da sua Palavra e da Eucaristia, para saborear o dom da sua Presença, formar-nos na sua escola e viver cada vez mais conscientemente unidos a Ele, Mestre e Senhor. É Ele mesmo quem nos diz: "Aquele que me ama será amado por meu Pai: Eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele" (Jo 14, 21). Só a partir deste encontro com o Amor de Deus, que muda a existência, podemos viver em comunhão com Ele e entre nós, e oferecer aos irmãos um testemunho credível, explicando a razão da nossa esperança (cf. 1 Pd 3, 15). Uma fé adulta, capaz de se confiar totalmente a Deus com atitude filial, alimentada pela oração, pela meditação da Palavra de Deus e pelo estudo das verdades da fé, é uma condição para poder promover um novo humanismo, fundamentado no Evangelho de Jesus.

Além disso, em Outubro, em muitos países retomam-se as várias atividades eclesiais depois da pausa de Verão, e a Igreja convida-nos a aprender de Maria, mediante a oração do Santo Rosário, a contemplar o desígnio de amor do Pai sobre a humanidade, para a amar como Ele a ama. Não é porventura este o sentido da missão?

Com efeito, o Pai chama-nos a ser filhos amados no seu Filho, o Amado, e a reconhecer-nos todos irmãos naquele que é Dom de Salvação para a humanidade dividida pela discórdia e pelo pecado, e Revelador do verdadeiro Rosto daquele Deus que "amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).

"Queremos ver Jesus" (Jo 12, 21), é o pedido que, no Evangelho de João, alguns gregos que chegaram a Jerusalém para a peregrinação pascal, dirigem ao Apóstolo Filipe. Ele ressoa também no nosso coração neste mês de Outubro, que nos recorda como o compromisso do anúncio evangélico compete a toda a Igreja, "missionária por sua própria natureza" (Ad gentes, 2), convidando-nos a tornarmo-nos promotores da novidade de vida, feita de relacionamentos autênticos, em comunidades fundadas no Evangelho. Numa sociedade multiétnica que experimenta cada vez mais formas preocupantes de solidão e de indiferença, os cristãos devem aprender a oferecer sinais de esperança e a tornar-se irmãos universais, cultivando os grandes ideais que transformam a história e, sem falsas ilusões nem medos inúteis, comprometer-se para fazer com que o planeta seja a casa de todos os povos.

Como os peregrinos gregos de há dois mil anos, também os homens do nosso tempo, talvez nem sempre conscientemente, pedem aos crentes não só que "falem" de Jesus, mas que "façam ver" Jesus, façam resplandecer o Rosto do Redentor em cada ângulo da terra diante das gerações do novo milênio e sobretudo diante dos jovens de cada continente, destinatários privilegiados e agentes do anúncio evangélico. Eles devem sentir que os cristãos levam a Palavra de Cristo porque Ele é a Verdade, porque n'Ele encontraram o sentido, a verdade para a sua vida.

Estas considerações remetem para o mandamento missionário que todos os batizados e a Igreja inteira receberam, mas que não se pode realizar de maneira credível sem uma profunda conversão pessoal, comunitária e pastoral. De fato, a consciência da chamada a anunciar o Evangelho estimula não só cada fiel individualmente, mas todas as Comunidades diocesanas e paroquiais a uma renovação integral e a abrir-se cada vez mais à cooperação missionária entre as Igrejas, para promover o anúncio do Evangelho no coração de cada pessoa, de cada povo, cultura, raça, nacionalidade, em todas as latitudes. Esta consciência alimenta-se através da obra de SacerdotesFidei Donum, de Consagrados, de Catequistas, de Leigos missionários, numa busca constante de promover a comunhão eclesial, de modo que também o fenômeno da "interculturalidade" possa integrar-se num modelo de unidade, no qual o Evangelho seja fermento de liberdade e de progresso, fonte de fraternidade, de humildade e de paz (cf. Ad gentes, 8). De fato, a Igreja "é em Cristo como que sacramento, ou seja, sinal e instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano" (Lumen gentium, 1).

A comunhão eclesial nasce do encontro com o Filho de Deus, Jesus Cristo que, no anúncio da Igreja, alcança os homens e cria comunhão com Ele próprio e por conseguinte, com o Pai e com o Espírito Santo (cf. 1 Jo 1, 3). Cristo estabelece a nova relação entre o homem e Deus. "É Ele quem nos revela "que Deus é caridade" (1 Jo 4, 8) e, ao mesmo tempo, nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o mandamento novo do amor. Assim, aos que creem no amor divino dá-lhes a certeza de que abrir o caminho do amor a todos os homens e instaurar a fraternidade universal não são coisas vãs" (Gaudium et spes, 38).

A Igreja torna-se "comunhão" a partir da Eucaristia, na qual Cristo, presente no pão e no vinho, com o seu sacrifício de amor edifica a Igreja como seu corpo, unindo-nos ao Deus uno e trino e entre nós (cf. 1 Cor 10, 16ss). Na Exortação apostólica Sacramentum caritatisescrevi: "não podemos reservar para nós o amor que celebramos neste sacramento: por sua natureza, pede para ser comunicado a todos. Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar n'Ele" (n. 84). Por esta razão a Eucaristia não é só fonte e ápice da vida da Igreja, mas também da sua missão: "Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária" (Ibid.), capaz de levar todos à comunhão com Deus, anunciando com convicção: "o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco" (1 Jo 1, 3).

Caríssimos, neste Dia Missionário Mundial no qual o olhar do coração se dilata sobre os imensos espaços da missão, sintamo-nos todos protagonistas do compromisso da Igreja de anunciar o Evangelho. O estímulo missionário foi sempre sinal de vitalidade para as nossas Igrejas (cf. Carta enc. Redemptoris missio, 2) e a sua cooperação é testemunho singular de unidade, de fraternidade e de solidariedade, que nos torna críveis anunciadores do Amor que salva!

Por conseguinte, renovo a todos o convite à oração e, não obstante as dificuldades econômicas, ao compromisso da ajuda fraterna e concreta em apoio das jovens Igrejas. Este gesto de amor e de partilha, que o serviço precioso das Pontifícias Obras Missionárias, à qual manifesto a minha gratidão, providenciará à distribuição, apoiará a formação de sacerdotes, seminaristas e catequistas nas terras de missão mais distantes e encorajará as jovens comunidades eclesiais.

Na conclusão da mensagem anual para o Dia Missionário Mundial, desejo expressar, com particular afeto, o meu reconhecimento aos missionários e às missionárias, que testemunham nos lugares mais distantes e difíceis, muitas vezes com a vida, o advento do Reino de Deus. A eles, que representam as vanguardas do anúncio do Evangelho, vai a amizade, a proximidade e o apoio de cada crente. "Deus (que) ama quem doa com alegria" (2 Cor 9, 7) os encha de fervor espiritual e de alegria profunda.

Como o "sim" de Maria, cada resposta generosa da Comunidade eclesial ao convite divino ao amor dos irmãos suscitará uma nova maternidade apostólica e eclesial (cf. Gl 4, 4.19.26), que deixando-se surpreender pelo mistério de Deus amor, o qual "ao chegar a plenitude dos tempos, enviou o Seu Filho, nascido de mulher" (Gl 4, 4), dará confiança e audácia a novos apóstolos. Esta resposta tornará todos os crentes capazes de ser "jubilosos na esperança" (Rm 12, 12) ao realizar o projeto de Deus, que deseja "que todo o gênero humano constitua um só Povo de Deus, se congregue num só Corpo de Cristo, e se edifique num só templo do Espírito Santo"(Ad gentes, 7).



Vaticano, 6 de Fevereiro de 2010.

BENEDICTUS PP. XVI

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Porque testemunhos como esses não são divulgados pelos meios de comunicação?


“Sou um simples sacerdote católico. Sinto-me feliz e orgulhoso pela minha vocação. Vivo em Angola como missionário há vinte anos.” Assim começa a carta que o missionário salesiano uruguaio Martín Lasarte enviou ao New York Times sem obter resposta. Na carta, explica o trabalho silencioso a favor dos mais desfavorecidos da maioria dos sacerdotes da Igreja Católica que, contudo, “não é notícia”.

Na carta remetida pelo Pe. Martín Lasarte, ele explica que a enviou dia 6 de abril ao jornal nova-iorquino e desde então não obteve resposta. Nela, expressa seus sentimentos diante da onda midiática despertada pelos abusos de alguns sacerdotes, enquanto pouco surpreende o interesse que desperta nos meios o trabalho cotidiano de milhares e milhares de sacerdotes.

“É doloroso muito saber que as pessoas que deveriam ser sinais de amor de Deus tenham sido um punhal na vida de inocentes. Não há palavra que justifique tais atos. Não há dúvida de que a Igreja está do lado dos fracos, dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que forem tomadas para a proteção e prevenção da dignidade das crianças serão sempre uma prioridade absoluta”, afirma em sua carta.

Contudo, destaca, “é curiosa a pouca noticiabilidade e desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que trabalham em prol dos milhões de crianças, adolescentes e demais desfavorecidos nos quatros cantos do mundo”.

“Penso que para seu meio de informação não interessa as muitas crianças desnutridas que tive de carregar por caminhos minados em 2002 desde Cangumbe a Luena (Angola), pois nem o governo se dispunha a fazer isso, e as ONGs não estavam autorizadas; tive de enterrar dezenas de pequenos, falecidos entre os deslocados pela guerra e os que retornaram; que salvamos a vida de milhares de pessoas no México mediante o único posto médico a 90 mil km de distância, assim como a distribuição de alimentos e sementes; que demos a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110 mil pequenos…”, afirma.

Não é de interesse - destaca – que ,como outros sacerdotes, tivemos de socorrer a crise humanitária de cerca de 15 mil pessoas nos quartéis da guerrilha, depois de sua rendição, porque não chegavam os alimentos do governo e da ONU.”

E, em seguida, enumera uma série de ações, muitas vezes em situação de risco ou perda de vida, por seus companheiros que são ignoradas pela mídia.

“Não é notícia um sacerdote de 75 anos, Pe. Roberto, que vai até as cidades de Luanda curando os meninos da rua, levando-os a uma casa de recuperação, para que se desintoxiquem; que alfabetiza centenas de presos; e outros sacerdotes, maltratados e até violentados e buscam um refúgio. Menos ainda que o Frei Maiato, com seus 80 anos, passe de casa em casa confortando os doentes e desesperados.”

“Não é notícia que mais de 60 mil, dos 400 mil sacerdotes e religiosos, deixaram sua terra e sua família para servir seus irmãos em leprosários, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de bruxaria ou órfãos de pais que faleceram com Aids, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção a portadores do HIV… ou sobretudo em paróquias e missões, dando motivações para as pessoas viverem e amarem.”

“Não é notícia que meu amigo, Pe. Marcos Aurélio, por salvar alguns jovens durante a guerra na Angola, transportou-os de Calulo a Dondo e, voltando à sua missão, foi morto no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, por ir ajudar as áreas rurais mais escondidas, foram mortos em um acidente na estrada; que dezenas de missionários na Angola morreram por falta de socorro sanitário, por uma simples malária; que outros voaram pelo céu, por motivo de minas terrestres, visitando seus povos. No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região… Nenhum deles passou dos 40 anos.”

“Não é notícia acompanhar a vida de um sacerdote ‘normal’ em seu dia-a-dia, em suas dificuldades e alegrias, consumindo sem barulho sua vida a favor da comunidade à qual serve.”

“A verdade é que não procuramos ser notícia, mas simplesmente levar a Boa Notícia, essa notícia que sem barulho começou na noite de Páscoa. Há mais ruído por uma árvore que cai do que por um bosque que cresce”, destaca.

“Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes – afirma. O sacerdote não é nenhum herói nem um neurótico. É um simples homem que, com sua humanidade, busca seguir Jesus e servir seus irmãos. Há miséria, pobreza e fragilidade, como em cada ser humano; e também beleza e bondade, como em cada criatura…”

“Insistir na perseguição obsessiva em um tema, perdendo a visão de conjunto, cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico, nas quais me sinto ofendido”, afirma.

E conclui: “Só lhe peço, amigo jornalista, que busque a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso o tornará nobre em sua profissão”.

Autor: Nieves San Martín