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terça-feira, 25 de maio de 2010

Jornada Mundial da Juventude pode acontecer em 2015

— Estou feliz porque a próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), após a de Madri, em 2011, será no Brasil em 2014 ou 2015.


Foi com essa expressão calorosa que o Subsecretário para o Pontifício Conselho para os Leigos, o professor Guzman Carriquiry Lecour, recebeu os padres da Arquidiocese do Rio, Jefferson Gonçalves, José Brito e Leandro Cury, na sede da Entidade, que promove a ação dos leigos na Igreja e no mundo.

A importância da realização de um evento desse porte se revela não apenas para o Brasil, como também para toda a América Latina. Ela se fundamenta, segundo o professor Guzman, porque é na América Latina que está concentrado o maior número de batizados do mundo. Para ele, se juntarmos ainda os 40 milhões de latino-americanos presentes na América do Norte, pode-se dizer que mais de 50 por cento dos cristãos no mundo se encontram no continente americano.

Segundo Guzman, há três fatores que garantem a realização da JMJ no Brasil. O primeiro, porque a realização da Jornada é um serviço à Igreja universal. Muito mais do que ser um evento local, o país-sede se torna um polo de atração junto aos países vizinhos e a todo o mundo. Além de elogiar a coesão da Conferência Episcopal brasileira, Guzman ressalta a força do Documento de Aparecida, fruto da reflexão dos países de toda a América Latina e do Caribe.

Em segundo lugar, Guzman lembra a posição hoje do Brasil no mundo e na América Latina. O protagonismo do Brasil na política internacional, indo muito além do Mercosul, chegando a um papel de destaque no Bric (conjunto de países em desenvolvimento composto, além do Brasil, pela Rússia, Índia e China), comprovam a seriedade de um projeto de construção social não fechado em si mesmo, mas aberto às necessidades do mundo.

Por fim, o Subsecretário confirma o amadurecimento da Igreja Brasileira, expresso pela configuração atual da CNBB, onde é perceptível o esforço pela comunhão dos bispos, como também pelo florescimento de muitas vocações sacerdotais, consagradas e leigas. Ao mesmo tempo em que a caminhada das comunidades é confirmada na preferência pelos mais pobres, o surgimento das novas comunidades eclesiais expande a ação da Igreja local para as mais diferentes necessidades da Igreja universal, sendo, inclusive, um polo de envio missionário para diferentes lugares do mundo.

Segundo o professor Guzman, a realização da Copa do Mundo de futebol em 2014 não impede a realização da JMJ no Brasil. Por outro lado, é possível que a Jornada não se realize nesse mesmo ano e seja transferida para 2015. O que parece certo, segundo ele, é que a definição da cidade-sede aconteça até o fim deste ano, para que a escolhida tenha de 4 a 5 anos para preparar esse grande encontro, que irá receber milhões de jovens vindos de todo o mundo.

O Rio de Janeiro, através do seu Arcebispo, Dom Orani João Tempesta, apoiado pelos Governos Estadual e Municipal, se colocou à disposição do Santo Padre, o Papa Bento XVI, para sediar a Jornada Mundial da Juventude, após a de Madri em 2011. É dele que virá a escolha para o maior encontro da juventude católica em todo o mundo.


Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro.

domingo, 23 de maio de 2010

O QUE É PENTECOSTES?

O que a festa de Pentecostes e a Copa do Mundo de 2002 têm em comum? Foi nessa Copa que o Brasil conquistou seu quinto título mundial e se tornou pentacampeão. Não precisa ser "doutor" para perceber que "pentacampeonato" e "pentecostes" começam com o prefixo "penta", que em grego designa o número cinco. 

No caso de Pentecostes, o prefixo remete mais precisamente ao número cinquenta. A festa de Pentecostes foi inicialmente celebrada pelos judeus para comemorar os frutos das colheitas, depois do 50º dia da Páscoa. Depois, se tornou a festa da aliança do Monte Sinai, quando Deus entregou a Sua lei para o povo de Israel, que peregrinava no deserto.

A Igreja comemora nesse dia a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, cinquenta dias após a Ressurreição de Jesus Cristo. “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2, 1-4).

O Espírito de Deus havia sido negado ao povo israelita após o culto ao bezerro de ouro. Ele se tornou um privilégio dos profetas. Os judeus esperavam que com a vinda do Messias, o Espírito de Deus fosse derramado novamente e fizesse de Israel uma nação de profetas.

Nesse sentido, a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos tem um significado muito especial para nós cristãos (Catecismo da Igreja Católica, 731-732):

• O cumprimento total da Páscoa de Jesus Cristo: a nova Aliança com os homens. Deus fez uma aliança eterna com cada um de nós, uma aliança de amor e fidelidade. O Espírito Santo é a garantia dessa fidelidade e amor. 

• O Espírito Santo é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina. Ele não é mais um “ilustre desconhecido”. Ele está presente em nossas vidas e nós podemos ter uma relação de íntima amizade com Ele. Por isso, devemos invocá-lo em meios aos sofrimentos e lutas dessa vida: “Vinde, Espírito Santo!”

• O Senhor Jesus derrama o Espírito Santo em abundância sobre cada um de nós. Todos somos profetas de Deus, pois “Cristo, derrama (o Espírito Santo) nos Seus membros para os alimentar, curar, organizar nas suas mútuas funções, vivificar, enviar a dar testemunho e associar à Sua oferta ao Pai e à Sua intercessão pelo mundo inteiro” (CIC 739). O Espírito Santo é nosso defensor, guia e companheiro de caminhada. 

• O Reino anunciado por Jesus está aberto para todos os que creem n’Ele. As portas do Céu estão “escancaradas” para nós, e agora temos que fazer a nossa parte: crer, confiar e amar a Deus.

Por isso, é preciso celebrar com muita alegria essa festa tão importante para a Igreja, muito mais importante que o pentacampeonato mundial. E a melhor maneira de festejá-la é cultivar a nossa amizade com o Espírito Santo, especialmente através da oração. Por exemplo, podemos pedir o Seu conselho durante o dia, ou apenas invocá-lo amorosamente no silêncio do nosso coração, “Vinde, Espírito Santo!” A Igreja ensina que graças a essa força do Espírito, os filhos de Deus podem dar muitos frutos em suas vidas (CIC 736).

“Também o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).

PAPA: O ESPÍRITO SANTO SUPERA MUROS E BARREIRAS

Cidade do Vaticano, 23 maio de 2010



"Na celebração de Pentecostes, somos convidados a professar a nossa fé na presença e na ação do Espírito Santo" – com esta síntese da solenidade que conclui o tempo pascal, teve início a homilia pronunciada por Bento XVI esta manhã, na Basílica de S. Pedro.

O Espírito Santo, recordou o pontífice, é o dom que Jesus pediu e continuamente pede ao Pai por seus amigos; o primeiro e principal dom que nos obteve com a sua Ressurreição e Ascensão ao Céu. Este dom produz unidade e compreensão: "Inicia-se um processo de reunificação entre as partes da família humana, divididas e espalhadas; as pessoas, muitas vezes reduzidas a indivíduos em competição ou em conflito entre si, alcançadas pelo Espírito de Cristo se abrem à experiência da comunhão, que pode envolvê-las a tal ponto de fazer delas um novo organismo, um novo sujeito: a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus: a unidade".

Desde o início, desde o dia de Pentecostes, explicou o Papa, a Igreja fala todas as línguas. Ela jamais permanece prisioneira de confins políticos, raciais e culturais; não se pode confundir com os Estados e deve permanecer autônoma. Por sua natureza, a Igreja é una e multíplice, destinada a viver em todas as nações, todos os povos, nos mais diferentes contextos sociais. O Espírito Santo envolve homens e povos e, através deles, supera muros e barreiras.

Todavia, esta unidade criada pelo Espírito Santo não significa uma espécie de igualitarismo. Pelo contrário. Em Pentecostes, os Apóstolos falam línguas diferentes de modo que cada um compreenda a mensagem no próprio idioma. Às Igrejas particulares, porém, cabe a missão de se confrontar e se harmonizar com a Igreja una e católica.

A seguir, Bento XVI falou do fogo, a maneira como o Espírito Santo se manifesta – fogo como chama divina que ilumina a estrada da humanidade. "Como é diferente do fogo das guerras e das bombas!" – comparou o pontífice. "Como é diferente o incêndio de Cristo, propagado pela Igreja, em relação ao fogo aceso pelos ditadores de todas as épocas, inclusive do século passado, que deixa um rastro de destruição. O fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, ao invés, arde sem queimar, sem destruir, e, ao se propagar, faz emergir a parte melhor e mais verdadeira do homem, a sua vocação à verdade e ao amor.

No íntimo do homem, o fogo provoca uma transformação, consumando as escórias que o corrompem e dificultam sua relação com Deus e com o próximo. Paradoxalmente, observa o pontífice, este efeito divino nos assusta, temos medo de nos "queimar", e escolhemos permanecer como somos. Isso depende do fato de que muitas vezes a nossa vida é marcada pela lógica do ter, do possuir, e não do doar-se. Muitas pessoas crêem em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo, mas têm medo das exigências da fé, de renunciar a certas experiências, a algo de belo.

Para quem vive esta divisão, o Papa repete o que Jesus dizia aos seus amigos: "Não tenham medo". Devemos deixar que a presença de Cristo e a sua graça transformem o nosso coração, sempre sujeito às fraquezas humanas. "Vale a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo. A dor que provoca é necessária para a nossa transformação."

Fonte: Rádio do Vaticano

Domingo de Pentecostes

SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES

Vinde, ó Santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.

Descanso na luta
e paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.



Dos escritos dos Padres da Igreja

O Espírito da Verdade vos conduzirá à verdade plena.

Amados filhos, os corações de todos os católicos reconhecem que a hodierna solenidade deve ser venerada dentre as principais festas. Sem dúvida, uma grande reverência inspira este dia consagrado pelo Espírito Santo com o extraordinário milagre do dom que ele fez de si mesmo. Com efeito, é o décimo dia depois que o Senhor subiu ao mais alto de todos os céus para se assentar à direita de Deus.
Este dia refulge também como o qüinquagésimo depois da ressurreição, seu ponto de partida, encerrando grandes mistérios dos antigos e dos novos sacramentos, que demonstram claramente ter sido a graça prenunciada pela Lei e a Lei cumprida pela graça.
Como atestam os Atos dos Apóstolos, quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um forte vento, que encheu a casa em que estavam sentados. Então apareceram línguas como que de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se (At 2, 1-4). Como é veloz a palavra da Sabedoria! E onde Deus é mestre, quão depressa se aprende o que é ensinado! Não houve necessidade de tradução para ser entendida, nem de prática para ser utilizada, nem de tempo para ser estudada. Mas, pela ação do Espírito que sopra onde quer (cf. Jo 3, 8), as línguas próprias de cada povo se tornaram comuns, começando então a ressoar pelo mundo inteiro a pregação do Evangelho.
Desde esse dia, uma chuva de carismas e rios de bênçãos irrigaram todo deserto e toda terra árida, pois, a fim de renovar a face da terra, o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1, 2). E para dissipar as antigas trevas, cintilaram os fulgores de uma nova luz quando, pelo esplendor das línguas refulgentes, foi concebida a palavra luminosa do Senhor, palavra de fogo, possuidora de eficácia e de força para queimar, despertando a capacidade de compreensão e consumindo o pecado.
Amados filhos, a própria forma do acontecimento foi admirável, e, sem dúvida, naquela harmonia exultante de todas as vozes humanas, estava presente a majestade do Espírito Santo; mas, ninguém pense que sua substância divina tenha aparecido nos fatos vistos com os olhos do corpo. A natureza invisível, igualmente comum ao Pai e ao Filho, mostrou a qualidade de seu dom e de sua obra
através do sinal que quis. No entanto, manteve oculto em sua divindade o que é próprio de sua essência. Pois, assim como o Pai e o Filho não podem ser alcançados pelo olhar humano, assim também o Espírito Santo.
Nada na Trindade divina é dessemelhante, nada é desigual, e todos os atributos que se podem pensar a respeito de sua substância em nada se distinguem, nem pelo poder nem pela glória nem pela eternidade. Quanto às propriedades das Pessoas, um é o Pai, outro é o Filho e outro é o Espírito Santo; todavia, a divindade não é diferente, nem é diversa a natureza. Do Pai é o Filho Unigênito, e o Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho, não, porém, como qualquer criatura que pertence ao Pai e ao Filho, mas enquanto com ambos vive e possui o poder, subsistindo eternamente naquilo que é o Pai e o Filho.
Por isso, o Senhor, na véspera de sua paixão, prometendo a seus discípulos a vinda do Espírito Santo, afirma: Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos conduzirá à verdade plena. Ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará até as coisas futuras. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso, eu vos disse que ele receberá do que é meu para vos anunciar (Jo 16, 12-13.15).
Isso não significa que algumas coisas pertençam ao Pai, outras ao Filho e outras ao Espírito Santo, mas tudo o que o Pai tem, o Filho igualmente tem, e o Espírito Santo também tem. Na Trindade sempre houve esta comunhão, porque nela tudo ter é o mesmo que sempre existir. A seu respeito, não se insinue na mente noção alguma de tempo, grau ou diferença; e se ninguém pode explicar o que é Deus, ninguém ouse afirmar acerca dele o que não é. É mais desculpável não falar da natureza inefável o que ela merece, do que atribuir-lhe o que é contrário.
Tudo o que os corações piedosos puderem conceber sobre a eterna e imutável glória do Pai, devem compreendê-lo como inseparável e sem distinção tanto do Filho como do Espírito Santo. Por conseguinte, proclamamos que a bem-aventurada Trindade é um só Deus, porque nas três Pessoas não há diferença alguma de substância, de poder, de vontade ou de ação.
(Dos Sermões de São Leão Magno, papa Tractatus 75, 1-3 –
Corpus Christianorum Latinorum 138 A, 465-468)


Realiza-se em vós o que foi prenunciado nos dias da vinda do Espírito Santo

Irmãos, despontou para nós o dia feliz em que a Santa Igreja brilha nos rostos dos fiéis e se abrasa em seus corações. De fato, estamos celebrando o dia em que o Senhor Jesus Cristo, glorificado pela ascensão depois que ressuscitou, mandou à terra o Espírito Santo. Efetivamente, está escrito no Evangelho: Se alguém tem sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva. E prosseguindo o evangelista explica e afirma: Ele falava do Espírito que deviam receber os que nele cressem; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus não fora ainda glorificado (Jo 7,37-39). Estava pois faltando agora que Jesus, já glorificado, após ter ressuscitado dos mortos e subido ao céu, mandasse o Espírito Santo. Enviá-lo-ia aquele que o prometera. E foi assim que aconteceu.
Depois de ter passado quarenta dias com seus discípulos, subiu ao céu o Senhor ressuscitado. E no qüinquagésimo dia, que hoje celebramos, enviou o Espírito Santo, como está escrito: De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval. E apareceram umas como linguas de fogo, que se distribuiram e foram pousar sobre cada um deles. E começaram a falar em outras linguas, conforme o Espírito os impelia a falarem (At 2,2.3.4).
Aquele vento purificava os corações da palha da carne. Aquele fogo consumia o fogo da velha concupiscência. Aquelas linguas faladas pelos que estavam repletos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, que haveria de estar entre as linguas de todos os povos. De fato, após o dilúvio, a impiedade soberba dos homens construiu uma torre elevada contra o Senhor, e o gênero humano mereceu ser dividido em linguas diversas, começando cada povo a falar sua lingua para não ser entendido pelos outros povos. Agora, ao invés, a humilde piedade dos fiéis recolheu a diversidade destas linguas na unidade da Igreja, onde a caridade reuniu aquilo que a discórdia tinha espalhado. E os membros dispersos do corpo humano, como membros de um único corpo, voltam a ser unificados na única cabeça que é Cristo, fundidos na unidade de seu santo corpo pelo fogo do amor.
Por isso são inteiramente estranhos ao dom do Espírito Santo os que odeiam a graça da paz e não conservam a comunhão e a unidade. E, embora também eles hoje se reúnam solenemente e ouçam estas leituras em que se fala da promessa e da vinda do Espírito Santo, ouvem-nas como condenação e não como prêmio. Pois de que lhes serve ouvir com os ouvidos aquilo que rejeitam com o coração e celebrar o dia cuja luz odeiam? Vós, porém, irmãos, membros do corpo de Cristo, germes de unidade, filhos da paz, celebrai este dia alegres, celebrai-o seguros. Porque em vós se realiza aquilo que era prefigurado nos dias em que veio o Espírito Santo. Porque, como outrora quem recebia o Espírito Santo, embora fosse um homem só, falava todas as linguas, assim agora fala todas as linguas, através de todos os povos, a própria unidade. Estabelecidos nela, possuis o Espírito Santo, os que não estais separados por nenhum cisma da Igreja de Cristo que fala todas as linguas.
(Dos sermoes de Santo Agostinho, Bispo - Sermão 271)

sábado, 15 de maio de 2010

Peregrinação a Portugal abre nova etapa deste pontificado

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 14 de maio de 2010

A missão de Fátima não terminou

Especialistas veem evento como um marco histórico

O pontificado de Bento XVI ficará dividido entre o antes e o depois de sua peregrinação apostólica a Portugal. Esta é conclusão a que se chega ao conversar com os especialistas em informação religiosa ou ler seus artigos - sejam eles favoráveis ou contrários ao pensamento de Joseph Ratzinger.

Na celebração das Vésperas, todos puderam constatar que o Papa empreendia sua 15ª viagem apostólica internacional (de 11 a 14 de maio) em circunstâncias particularmente desfavoráveis, por conta da crise que assola a Igreja após as revelações de abusos sexuais cometidos contra menores por sacerdotes.

Fortaleza inesperada

Alguns dos veículos de comunicação que lançaram os mais duros ataques contra o Papa se deram conta de que, já no primeiro dia de sua visita, algo estava mudando radicalmente. O New York Times, em 11 de maio, publicava na internet uma crônica de Rachel Donadio na qual considerava que as palavras do Bispo de Roma dirigidas aos jornalistas tratando do assunto "foram as mais duras" que ele pronunciou sobre esta matéria.

"Os ataques ao Papa e à Igreja não provêm apenas de fora, uma vez que os sofrimentos a Igreja padece agora vêm precisamente de dentro da Igreja, do pecado que existe no interior da Igreja", constatava o Pontífice. A crônica citava as últimas medidas do Papa para purificar a Igreja.

"Este é um claro exemplo das mudanças de tom que o Papa está imprimindo ao Vaticano", comenta John L. Allen Jr., vaticanista do jornal norte-americano National Catholic Reporter.

Miguel Mora, correspondente no Vaticano do jornal espanhol "El País", um dos jornais europeus mais condescendentes com o papado, escreveu uma análise na qual apresentava o Santo Padre com o título de "O gladiador solitário".

"Quando os escândalos da ocultação dos casos de pedofilia clerical deram origem à maior crise da Igreja das últimas décadas, Ratzinger deu o melhor de si mesmo", escreveu, reconhecendo nele "a coragem e a ferocidade de um gladiador solitário, incompatíveis com um homem de 83 anos" na "purificação de uma Igreja pecadora".

Carinho transformado em números

A mudança na atitude dos jornalistas foi reforçada pelos números surpreendentes da visita papal. O Pontífice reuniu, na esplanada do Santuário de Fátima, em 13 de maio, uma multidão de mais de meio milhão de pessoas - 100 mil a mais que na visita de João Paulo II em 2000, quando este beatificou Jacinta e Francisco.

Em Lisboa, o Papa reuniu cerca de 200 mil pessoas para a Missa, e, no Porto, cerca de 120 mil. Contando todas as pessoas que estavam presentes nas ruas nos três locais visitados, provavelmente chega-se a um milhão de pessoas - num país de 10 milhões de pessoas, 10% de seus habitantes encontrara-se com o Pontífice.

Um Bento XVI até então desconhecido

Desta vez, os veículos de comunicação não viram a habitual timidez do Papa; pelo contrário, puderam conhecer seu lado mais íntimo, especialmente quando o viram ajoelhar-se, em 12 de maio, diante de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições de Fátima.

O redator de informação religiosa do Le Figaro, Jean-Marie Guénois, que esteve a poucos metros de Bento XVI neste momento, imortalizou estes minutos em que o Pontífice ofertou uma Rosa de Ouro à Virgem.

"Inclinou-se, como que transformado, no momento em que seu assistente lhe trouxe o famoso presente, para que o colocasse aos pés da imagem. Naqueles instantes, já não era um Papa, mas uma criança. Aproximou-se com o sorriso de um menino no dia das mães", escreveu.

"Ao seu redor, cerca de 300 mil pessoas vibravam com ele", lembra o cronista. O momento foi interrompido quando o mestre de cerimônias o tomou delicadamente pelo braço: "E o menino voltou a ser Papa".

Octávio Carmo, da agência católica de notícias portuguesa Ecclesia, presente no voo papal de regresso à Roma nesta tarde de sexta-feira, também escolheu este momento como síntese desta peregrinação: "Esta foi, talvez, a viajem que melhor define o pontificado de Bento XVI: um homem que surpreende as multidões que não o conhecem, mas que se revela especialmente em privado".

A missão de Fátima não terminou

Andrea Tornielli, vaticanista do jornal italiano Il Giornale, destacou as palavras da homilia de 13 de maio, quando o Papa explicava que "iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima está concluída", considerando que a mensagem da Virgem não se limita ao atentado contra João Paulo II, de 1981.

O próprio Bento XVI reconheceu, durante a coletiva de imprensa concedida a bordo do avião, que o texto do terceiro segredo de Fátima se refere "à necessidade de uma paixão da Igreja, que naturalmente se reflete na pessoa do Papa".

Na quinta-feira, em seu encontro com os bispos portugueses, Joseph Ratzinger falou assim de sua missão à luz de Fátima: "Como vedes, o Papa precisa de abrir-se cada vez mais ao mistério da cruz, abraçando-a como única esperança e derradeiro caminho para ganhar e reunir no Crucificado todos os seus irmãos e irmãs em humanidade".

Tendo demonstrado emoções tão profundas, uma nova etapa do pontificado de Bento XVI se inicia - ao menos para os profissionais de informação religiosa.

Fonte: Jesús Colina - ACDigital

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ficar ou sair da Igreja?

«Novas revelações de abusos sexuais por padres na Alemanha e na Itália provocaram uma onda de raiva e de desgosto. Eu recebi e-mails de pessoas de toda a Europa perguntando como eles ainda podem ficar na Igreja. Eu até recebi um formulário com o qual poderia renunciar à minha participação na Igreja. Por que ficar?

Primeiro, por que ir? Algumas pessoas sentem que não podem mais ficar associadas a uma instituição que é tão corrupta e perigosa para as crianças. O sofrimento de tantas crianças é de fato horroroso. Elas devem ser a nossa primeira preocupação. Nada do que vou escrever pretende, de forma nenhuma, diminuir nosso horror diante do mal dos abusos sexuais. Mas as estatísticas para os EUA, do John Jay College of Criminal Justice de 2004, indicam que o clero católico não causou mais ofensas do que o clero casado de outras Igrejas.

Algumas pesquisas apresentam até um nível menor de transgressões por parte dos padres católicos. Eles são menos propensos a cometer transgressões do que professores leigos de escolas, e talvez essa probabilidade em comparação à população em geral seja até a metade. O celibato não leva as pessoas ao abuso de crianças. É simplesmente uma inverdade imaginar que deixar a Igreja para ir a outra denominação deixaria nossos filhos mais seguros. Devemos encarar o terrível fato de que o abuso de crianças está espalhado em todas as partes da sociedade. Fazer da Igreja um bode expiatório seria um forma de encobrimento.

Mas e os encobrimentos dentro da Igreja? Nossos bispos não foram chocantemente irresponsáveis ao transferir os abusadores de um lado para o outro, não os denunciando à polícia e, assim, perpetuando os abusos? Sim, às vezes. Mas a grande maioria desses casos remonta aos anos de 1960 e 1970, quando os bispos geralmente consideravam os abusos sexuais como um pecado em vez de uma condição patológica também, e quando os advogados e psicólogos comumente lhes tranquilizavam dizendo que era seguro transferir os padres depois do tratamento. É injusto projetar ao passado uma consciência de natureza e de seriedade dos abusos sexuais que simplesmente não existia então. Foi apenas a ascensão do feminismo no final da década de 70 que, ao jogar luz sobre a violência de alguns homens contra mulheres, nos alertou sobre o terrível dano cometido contra crianças vulneráveis.

Mas e o Vaticano? O Papa Bento XVI assumiu uma linha forte ao abordar essa questão como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e assim que se tornou Papa. Agora, os dedos estão apontados contra ele. Parece que alguns casos denunciados à Congregação sob a sua guarda não foram tratados. A credibilidade do Papa não está minada? Há manifestantes em frente à Basílica de São Pedro pedindo sua renúncia. Eu estou moralmente certo de que ele não carrega nenhuma culpa aqui.

Geralmente se imagina que o Vaticano seja uma organização ampla e eficiência. De fato, ele é muito pequeno. A Congregação para a Doutrina da Fé emprega 45 pessoas, lidando com questões doutrinárias e disciplinares de uma Igreja que tem 1,3 bilhão de membros, 17% da população do mundo e cerca de 400 mil padres. Quando eu tive contato com a Congregação como Mestre da Ordem Dominicana, ficava óbvio que eles estavam se esforçando para dar conta. Os documentos passavam despercebidos. O cardeal Joseph Ratzinger lamentou comigo que a equipe era simplesmente muito pequena para o trabalho.

As pessoas estão furiosas com a falha do Vaticano em abrir seus arquivos e oferecer explicações sobre o que aconteceu. Por que ele é tão secreto? Católicos com raiva e dor sentem-se no direito de ter um governo transparente, e eu concordo. Mas devemos, em justiça, compreender por que o Vaticano é tão autoprotetor. Houve mais mártires no século XX do que em todos os séculos anteriores somados. Bispos e padres, religiosos e leigos foram assassinados no Leste Europeu, nos países soviéticos, na África, na América Latina e na Ásia.

Muitos católicos ainda sofrem prisões e morte por causa de sua fé. Claro, o Vaticano tende a acentuar a confidencialidade: isso foi necessário para proteger a Igreja de pessoas que desejavam destruí-la. Então, é compreensível que o Vaticano reaja agressivamente a demandas por transparência e que leia os pedidos legítimos por abertura como uma forma de perseguição. E alguns integrantes da mídia desejam realmente, sem dúvida, prejudicar a credibilidade da Igreja.

Mas temos uma dívida de gratidão para com a imprensa pela sua insistência para que a Igreja encare suas falhas. Se não fosse pela mídia, então esses abusos vergonhosos permaneceriam sem ser discutidos.

A confidencialidade também é uma consequência da insistência da Igreja sobre o direito de todos os acusados a manterem seu bom nome até que sejam provados culpados. Isso é muito difícil de entender para a nossa sociedade, cuja mídia destrói a reputação das pessoas sem nem pensar.

Por que ir embora? Se é para encontrar um porto mais seguro, uma Igreja menos corrupta, então eu acho que você vai ficar desapontado. Eu também almejo um governo mais transparente, um debate mais aberto, mas o segredo da Igreja é compreensível e às vezes necessário. Entender nem sempre é fechar os olhos, mas é preciso se queremos agir com justiça.

Por que ficar? Eu devo colocar minhas cartas sobre a mesa. Mesmo que a Igreja fosse obviamente pior do que outras Igrejas, eu ainda assim não iria embora. Eu não sou católico porque a nossa Igreja é a melhor, ou mesmo porque eu gosto do catolicismo. Eu realmente amo muitas coisas da minha Igreja, mas existem aspectos dela que eu não gosto. Eu não sou católico por causa de uma opção de consumo em um “Waitrose” ao invés de um “Tesco” eclesiásticos [marcas de supermercado ingleses], mas sim porque eu acredito que ela encarna algo que é essencial ao testemunho cristão da Ressurreição: a unidade visível.

Quando Jesus morreu, sua comunidade se dividiu. Ele havia sido traído, negado, e muitos de seus discípulos fugiram. Foram principalmente as mulheres que o acompanharam até o fim. No Dia da Páscoa, ele apareceu aos discípulos. Essa foi mais do que uma ressuscitação física de um cadáver.

Nele, Deus triunfou sobre tudo o que destrói a comunidade: pecado, covardia, mentiras, incompreensão, sofrimento e morte. A Ressurreição se tornou visível ao mundo por meio da visão impressionante do renascimento de uma comunidade. Aqueles covardes e negadores foram reunidos novamente. Eles não eram um grupo honrado, e se envergonharam por aquilo que haviam feito, mas novamente eram um. A unidade da Igreja é um sinal de que todas as forças que fragmentam e dispersam são derrotadas em Cristo.

Todos os cristãos são um no Corpo de Cristo. Eu tenho o mais profundo respeito e afeto pelos cristãos de outras Igrejas que me alimentam e inspiram. Mas essa unidade em Cristo precisa de uma encarnação visível. O cristianismo não é uma espiritualidade vaga, mas sim uma religião da encarnação, em que as verdades mais profundas assumem a forma física e às vezes institucional. Historicamente, essa unidade encontrou o seu foco em Pedro, a Rocha de Mateus, Marcos e Lucas e o pastor do rebanho do evangelho de João.

Desde o começo e ao longo da história. Pedro muitas vezes foi uma rocha vacilante, uma fonte de escândalo, corrupta, e mesmo assim ele é o escolhido – e seus sucessores –, cuja tarefa é nos manter unidos, de forma que possamos testemunhar a vitória de Cristo no Dia da Páscoa sobre o poder de divisão do pecado. E assim a Igreja está grudada em mim independentemente do que acontecer. Podemos até nos envergonhar em admitir que somos católicos, mas Jesus teve companhias vergonhosas desde o começo.»

Autor: Timothy Radcliffe*
Fonte: Familia dominicana

* Nascido em 1945 (Londres), Timothy Radcliffe, foi educado no St. John's College tendo-se tornado frade dominicano em 1965. Foi capelão do Imperial College London e professor no seuConvento, do qual foi igualmente prior entre 1982 e 1988. Eleito Prior Provincial de Inglaterra, exerceu o cargo entre 1988 e 1992, tendo igualmente sido presidente da Conferência dos Superiores Religiosos de Inglaterra e Gales. Foi também professor de Sagrada Escritura na Universidade de Oxford. Eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores em 1992, viajou por todo o mundo em visitas às diversas provincias da sua ordem. Escritor de méritos reconhecidos, publicou diversos livros de espiritualidade e de refexão sobre os desafios da vida contemporânea.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Você sabe quantos Padres temos no Brasil? Vamos fazer uma conta?


Até o dia 1º de maio de 2010, a Igreja contava com 18 mil padres no Brasil. E mais de 100 milhões de fiéis. Isso significa que cada padre tem que atender a mais de 5555 fiéis.
Agora faça essa conta comigo:
  • 10% de 18 mil padres = 1.800 padres
  • 1% de 18 mil padres = 180 padres
  • 0,1% de 18 mil padres = 18 padres
  • 0,01% de 18 mil padres = 1,8 padres
Quantos padres brasileiros estão envolvidos em escândalos pela mídia? 2 ou 3? Isso significa menos de 0,02% de todos os padres do Brasil!
  • E os outros 99,98%?
  • Nós vamos condenar todos os padres por causa de 2 ou 3?
  • Nós vamos deixar de acreditar em 11 Discípulos porque Judas traiu Jesus?
  • Nós vamos deixar de acreditar no Senhor por causa disso?
  • Deixaremos de ir à Igreja e de comungar por causa da mídia escandalosa?
Pense bem: mesmo você sendo pecador e imperfeito, mesmo com dúvidas, mesmo que você se afaste da Igreja de Cristo, mesmo assim Jesus morreu por você!
Pense nisso com carinho.

Dom Eduardo Pinheiro da Silva
Bispo Auxiliar de Campo Grande - MS

DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
PARA O 44º DIA MUNDIAL
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

«O sacerdote e a pastoral no mundo digital:
os novos media ao serviço da Palavra»

[Domingo,16 de Maio de 2010]


Queridos irmãos e irmãs!

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – «O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra» – insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: «Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?» (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma «história nova», porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos «multimédia» e o diversificado «espectro de funções» da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internetapenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas «vozes» que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede».
Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que «Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros» [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].
Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assimfazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam ociberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: «Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).

Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma «diaconia da cultura» no actual «continente digital». Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o «pátio dos gentios» do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na «ágora» moderna criada pelos meios actuais de comunicação.

Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro – Festa de São Francisco de Sales – de 2010.

BENEDICTUS PP. XVI

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Assunção de Maria na tradição da Igreja


Papa João Paulo II

1. A perene e coral tradição da Igreja evidencia o modo como a Assunção de Maria faz parte do desígnio divino e está arraigada na singular participação de Maria na missão do Filho. Já no primeiro milênio os autores sagrados se exprimem neste sentido.Testemunhos, na verdade apenas delineados, encontram-se em Santo Ambrósio, Santo Epifânio e Timóteo de Jerusalém. São Germano de Constantinopla (733) coloca nos lábios de Jesus, que Se prepara para levar a Sua Mãe para o céu, estas palavras: “É preciso que onde estou Eu, também tu estejas, Mãe inseparável de teu Filho…” (HomiL 3 in Dormitionem, PG 98, 360). 

Além disso, a mesma tradição eclesial vê na maternidade divina a razão fundamental da Assunção. esta convicção encontramos um vestígio interessante em uma narração apócrifa do século V, atribuída ao pseudo-Melitão. O autor imagina Cristo que interroga Pedro e os Apóstolos sobre a sorte merecida por Maria, e deles obtém esta resposta: “Senhor, escolhestes esta Tua serva a fim de que se torne para Ti uma residência imaculada… Portanto, pareceu-nos justo, a nós Teus servos que, assim como Tu reinas na glória depois de teres vencido a morte, Tu ressuscitas o corpo de Tua Mãe e conduze-a jubilosa contigo ao céu” (De transitu V. Mariae, 16 PG 5, 1238). Portanto, pode-se afirmar que a divina maternidade, que tornou o corpo de Maria a residência imaculada do Senhor, se funde com o seu destino glorioso. 

2. Num texto rico de poesia, São Germano afirma que é o afeto de Jesus pela sua Mãe que exige a presença de Maria no céu com o Filho divino: “Assim como uma criança procura e deseja a presença de sua Mãe, e como uma Mãe ama viver em companhia de seu filho, assim também para ti, cujo amor materno pelo teu Filho e Deus não deixa dúvidas, era conveniente que tu voltasses para Ele. E, em todo o caso, não era por ventura conveniente que este Deus, que provava por ti um amor deveras filial, te tomasse em Sua companhia?(Homil. 1 in Dormitionem, PG 98, 347). Num outro texto, o venerando autor integra o aspecto privado da relação entre Cristo e Maria, com a dimensão salvífica da maternidade, afirmando que “era necessário que a Mãe da Vida compartilhasse a habitação da Vida” (Ibid., PG 98, 348). 

3. Segundo os Padres da Igreja, outro argumento que fundamenta o privilégio da Assunção pode-se deduzir da participação de Maria na redenção. São João Damasceno sublinha a relação entre a participação na Paixão e a sorte gloriosa: “
Era necessário que aquela que vira o seu Filho sobre a cruz e recebera em pleno coração a espada da dor… contemplasse este Filho sentado à direita do Pai” (Homil. 2, PG 96, 741). À luz do Mistério pascal, parece de modo particularmente evidente a oportunidade que, com o Filho, também a Mãe fosse glorificada depois da morte. O Concílio Vaticano Il, recordando na Constituição dogmática sobre a Igreja o mistério da Assunção, chama a atenção para o privilégio da Imaculada Conceição: precisamente porque fora “preservada de toda a mancha de culpa original” (LG, 59), Maria não podia permanecer como os outros homens no estado de morte até ao fim do mundo. A ausência do pecado original e a santidade, perfeita desde o primeiro momento da existência, exigiam para a Mãe de Deus a plena glorificação da sua alma e do seu corpo. 

4. Olhando para o mistério da Assunção da Virgem é possível compreender o plano da Providência divina relativa à humanidade: depois de Cristo, Verbo encarnado, 
Maria é a primeira criatura humana que realiza o ideal escatológico, antecipando a plenitude da felicidade, prometida aos eleitos mediante à ressurreição dos corpos. Na Assunção da Virgem, podemos ver também a vontade divina de promover a mulher. Em analogia a quanto se verificara na origem do gênero humano e da história da salvação, no projeto de Deus o ideal escatológico devia revelar-se não em um indivíduo, mas num casal. Por isso, na glória celeste, ao lado de Cristo ressuscitado há uma mulher ressuscitada, Maria: o novo Adão e a nova Eva, primícias da ressurreição geral dos corpos da humanidade inteira. Sem dúvida, a condição escatológica de Cristo e a de Maria não devem ser postas no mesmo plano. Maria, nova Eva, recebeu de Cristo, novo Adão, a plenitude de graça e de glória celeste, tendo sido ressuscitada pelo poder soberano do Filho mediante o Espírito Santo. 

5. Embora sejam sucintas, estas observações permitem-nos esclarecer que a Assunção de Maria revela a nobreza e a dignidade do corpo humano. Diante das profanações e do aviltamento a que a sociedade moderna não raro submete em particular o corpo feminino, o mistério da Assunção proclama o destino sobrenatural e a dignidade de cada corpo humano, chamado pelo Senhor a tornar-se instrumento de santidade e a participar na Sua glória. 

Maria entrou na glória porque escutou no seu seio virginal e no seu coração o Filho de Deus.
 Olhando para ela, o cristão aprende a descobrir o valor do próprio corpo e a preservá-lo como templo de Deus, na expectativa da ressurreição. A Assunção, privilégio concedido à Mãe de Deus, constitui assim um imenso valor para a vida e o destino da humanidade.

Fonte: L’Osservatore Romano, ed. port.  n.28, 12/07/1997, pag. 12(332)