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domingo, 23 de maio de 2010

Domingo de Pentecostes

SEQUÊNCIA DE PENTECOSTES

Vinde, ó Santo Espírito,
vinde, Amor ardente,
acendei na terra
vossa luz fulgente.

Vinde, Pai dos pobres:
na dor e aflições,
vinde encher de gozo
nossos corações.

Benfeitor supremo
em todo o momento,
habitando em nós
sois o nosso alento.

Descanso na luta
e paz encanto,
no calor sois brisa,
conforto no pranto.

Luz de santidade,
que no Céu ardeis,
abrasai as almas
dos vossos fiéis.

Sem a vossa força
e favor clemente,
nada há no homem
que seja inocente.

Lavai nossas manchas,
a aridez regai,
sarai os enfermos
e a todos salvai.

Abrandai durezas
para os caminhantes,
animai os tristes,
guiai os errantes.

Vossos sete dons
concedei à alma
do que em Vós confia:

Virtude na vida,
amparo na morte,
no Céu alegria.



Dos escritos dos Padres da Igreja

O Espírito da Verdade vos conduzirá à verdade plena.

Amados filhos, os corações de todos os católicos reconhecem que a hodierna solenidade deve ser venerada dentre as principais festas. Sem dúvida, uma grande reverência inspira este dia consagrado pelo Espírito Santo com o extraordinário milagre do dom que ele fez de si mesmo. Com efeito, é o décimo dia depois que o Senhor subiu ao mais alto de todos os céus para se assentar à direita de Deus.
Este dia refulge também como o qüinquagésimo depois da ressurreição, seu ponto de partida, encerrando grandes mistérios dos antigos e dos novos sacramentos, que demonstram claramente ter sido a graça prenunciada pela Lei e a Lei cumprida pela graça.
Como atestam os Atos dos Apóstolos, quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um forte vento, que encheu a casa em que estavam sentados. Então apareceram línguas como que de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se (At 2, 1-4). Como é veloz a palavra da Sabedoria! E onde Deus é mestre, quão depressa se aprende o que é ensinado! Não houve necessidade de tradução para ser entendida, nem de prática para ser utilizada, nem de tempo para ser estudada. Mas, pela ação do Espírito que sopra onde quer (cf. Jo 3, 8), as línguas próprias de cada povo se tornaram comuns, começando então a ressoar pelo mundo inteiro a pregação do Evangelho.
Desde esse dia, uma chuva de carismas e rios de bênçãos irrigaram todo deserto e toda terra árida, pois, a fim de renovar a face da terra, o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1, 2). E para dissipar as antigas trevas, cintilaram os fulgores de uma nova luz quando, pelo esplendor das línguas refulgentes, foi concebida a palavra luminosa do Senhor, palavra de fogo, possuidora de eficácia e de força para queimar, despertando a capacidade de compreensão e consumindo o pecado.
Amados filhos, a própria forma do acontecimento foi admirável, e, sem dúvida, naquela harmonia exultante de todas as vozes humanas, estava presente a majestade do Espírito Santo; mas, ninguém pense que sua substância divina tenha aparecido nos fatos vistos com os olhos do corpo. A natureza invisível, igualmente comum ao Pai e ao Filho, mostrou a qualidade de seu dom e de sua obra
através do sinal que quis. No entanto, manteve oculto em sua divindade o que é próprio de sua essência. Pois, assim como o Pai e o Filho não podem ser alcançados pelo olhar humano, assim também o Espírito Santo.
Nada na Trindade divina é dessemelhante, nada é desigual, e todos os atributos que se podem pensar a respeito de sua substância em nada se distinguem, nem pelo poder nem pela glória nem pela eternidade. Quanto às propriedades das Pessoas, um é o Pai, outro é o Filho e outro é o Espírito Santo; todavia, a divindade não é diferente, nem é diversa a natureza. Do Pai é o Filho Unigênito, e o Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho, não, porém, como qualquer criatura que pertence ao Pai e ao Filho, mas enquanto com ambos vive e possui o poder, subsistindo eternamente naquilo que é o Pai e o Filho.
Por isso, o Senhor, na véspera de sua paixão, prometendo a seus discípulos a vinda do Espírito Santo, afirma: Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos conduzirá à verdade plena. Ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará até as coisas futuras. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso, eu vos disse que ele receberá do que é meu para vos anunciar (Jo 16, 12-13.15).
Isso não significa que algumas coisas pertençam ao Pai, outras ao Filho e outras ao Espírito Santo, mas tudo o que o Pai tem, o Filho igualmente tem, e o Espírito Santo também tem. Na Trindade sempre houve esta comunhão, porque nela tudo ter é o mesmo que sempre existir. A seu respeito, não se insinue na mente noção alguma de tempo, grau ou diferença; e se ninguém pode explicar o que é Deus, ninguém ouse afirmar acerca dele o que não é. É mais desculpável não falar da natureza inefável o que ela merece, do que atribuir-lhe o que é contrário.
Tudo o que os corações piedosos puderem conceber sobre a eterna e imutável glória do Pai, devem compreendê-lo como inseparável e sem distinção tanto do Filho como do Espírito Santo. Por conseguinte, proclamamos que a bem-aventurada Trindade é um só Deus, porque nas três Pessoas não há diferença alguma de substância, de poder, de vontade ou de ação.
(Dos Sermões de São Leão Magno, papa Tractatus 75, 1-3 –
Corpus Christianorum Latinorum 138 A, 465-468)


Realiza-se em vós o que foi prenunciado nos dias da vinda do Espírito Santo

Irmãos, despontou para nós o dia feliz em que a Santa Igreja brilha nos rostos dos fiéis e se abrasa em seus corações. De fato, estamos celebrando o dia em que o Senhor Jesus Cristo, glorificado pela ascensão depois que ressuscitou, mandou à terra o Espírito Santo. Efetivamente, está escrito no Evangelho: Se alguém tem sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva. E prosseguindo o evangelista explica e afirma: Ele falava do Espírito que deviam receber os que nele cressem; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus não fora ainda glorificado (Jo 7,37-39). Estava pois faltando agora que Jesus, já glorificado, após ter ressuscitado dos mortos e subido ao céu, mandasse o Espírito Santo. Enviá-lo-ia aquele que o prometera. E foi assim que aconteceu.
Depois de ter passado quarenta dias com seus discípulos, subiu ao céu o Senhor ressuscitado. E no qüinquagésimo dia, que hoje celebramos, enviou o Espírito Santo, como está escrito: De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval. E apareceram umas como linguas de fogo, que se distribuiram e foram pousar sobre cada um deles. E começaram a falar em outras linguas, conforme o Espírito os impelia a falarem (At 2,2.3.4).
Aquele vento purificava os corações da palha da carne. Aquele fogo consumia o fogo da velha concupiscência. Aquelas linguas faladas pelos que estavam repletos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, que haveria de estar entre as linguas de todos os povos. De fato, após o dilúvio, a impiedade soberba dos homens construiu uma torre elevada contra o Senhor, e o gênero humano mereceu ser dividido em linguas diversas, começando cada povo a falar sua lingua para não ser entendido pelos outros povos. Agora, ao invés, a humilde piedade dos fiéis recolheu a diversidade destas linguas na unidade da Igreja, onde a caridade reuniu aquilo que a discórdia tinha espalhado. E os membros dispersos do corpo humano, como membros de um único corpo, voltam a ser unificados na única cabeça que é Cristo, fundidos na unidade de seu santo corpo pelo fogo do amor.
Por isso são inteiramente estranhos ao dom do Espírito Santo os que odeiam a graça da paz e não conservam a comunhão e a unidade. E, embora também eles hoje se reúnam solenemente e ouçam estas leituras em que se fala da promessa e da vinda do Espírito Santo, ouvem-nas como condenação e não como prêmio. Pois de que lhes serve ouvir com os ouvidos aquilo que rejeitam com o coração e celebrar o dia cuja luz odeiam? Vós, porém, irmãos, membros do corpo de Cristo, germes de unidade, filhos da paz, celebrai este dia alegres, celebrai-o seguros. Porque em vós se realiza aquilo que era prefigurado nos dias em que veio o Espírito Santo. Porque, como outrora quem recebia o Espírito Santo, embora fosse um homem só, falava todas as linguas, assim agora fala todas as linguas, através de todos os povos, a própria unidade. Estabelecidos nela, possuis o Espírito Santo, os que não estais separados por nenhum cisma da Igreja de Cristo que fala todas as linguas.
(Dos sermoes de Santo Agostinho, Bispo - Sermão 271)

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