Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
O pássaro prisioneiro na gaiola e o pássaro livre da mata se amavam.
– Meu amor, vamos fugir para a floresta! – dizia o pássaro livre.
– Vem aqui, vamos viver juntos na gaiola! – respondia o pássaro prisioneiro.
– No teu espaço fechado não tem como abrir as asas – queixava-se o primeiro.
– Nos teus céus abertos não tem lugar para descansar – retrucava o outro.
O pássaro livre implorava: - Vou cantar-te os cantos das arvores e dos ventos.
Resignado o pássaro prisioneiro suspirava e dizia: - Infelizmente os cantos da floresta não podem ser ensinados, mas, se tu ficares aqui, posso ensinar-te a linguagem dos estudiosos.
Mas o pássaro livre não estava interessado na linguagem dos estudiosos e nem o pássaro prisioneiro podia entender os cantos da floresta. Ficaram assim, um bom tempo, tristes e calados, olhando-se um para o outro pela última vez, até que o pássaro livre tomou para sempre o caminho da mata.
Esse diálogo entre os dois pássaro nasceu de uma idéia do poeta Tagore. Pode nos ajudar a entender o que acontece com a nossa vida e, espero, um pouco também o evangelho deste domingo, no qual ficamos sabendo sobre o chamado dos primeiros apóstolos. Por exemplo, o ambiente familiar onde fomos criados e, portanto, passamos bastantes anos da nossa vida marca, para sempre, a nossa existência. Fica-nos difícil perder certos costumes e, se depois conhecemos outros, acabamos estranhando-os como se fossem esquisitos e até engraçados. Podemos chamar isso de educação, de cultura, mas o resultado é o mesmo: pr ecisamos fazer um pequeno, ou grande, esforço mental para aceitar formas diferentes de viver.